quarta-feira, 30 de junho de 2010

Querido Carlos

Agora que passou o impacto da notícia de tua viagem é que me sentei em frente ao computador para escrever para você.Como não sou de chorar fica tudo guardado querendo explodir o peito e a única maneira de desabafar é conversando um pouco contigo aliás conversar foi o que mais fizemos durante parte de minha vida e da tua.
A primeira e mais remota lembrança que tenho de ti é de quando te olhava tocando violão junto com Aprizídio lá naqueles verões inesquecíveis de minha infância em Tamandaré, toda a família reunida, minha mãe e minhas tias cantando enquanto você dedilhava acordes perfeitos e cantava músicas de Tom, Chico, Caetano e tantos outros e que ficariam marcadas indelevelmente em minha vida para sempre, talvez tenha sido ali que o menino Tuca tenha despertado para a música, ou terá sido enquanto escutava aquela fita cassete dentro de tua Brasília estacionada no quintal?,Foi ali que você me apresentou ao Rock and roll, entre um Buddy Holly, Elvis e Everly Brothers ou até mesmo o nonsense do banana boat.Aliás você não faz idéia do quanto me ensinou e apontou os caminhos naquelas nossas longas conversas através da madrugada onde indubitavelmente víamos o sol nascer da varanda.Lembro das tardes lindas de um Recife ainda não tão poluído e nem tão violento em que ia caminhando pra tua casa com meu violãozinho em baixo do braço, lá na tua casa o mundo se abria em uma tela enorme de possibilidades e sonhos e você com tua paciência me conduzia pelos caminhos intrincados da arte de tocar um instrumento, e eu voltava pra casa com a certeza de que cada vez mais eu não queria sair desse caminho e que minha vida e meu destino estava definitivamente traçado.Como se não bastasse isso você me mostrava tanta coisa linda, foi lá que ouvi pela primeira vez uma música de Milton e Pat Metheny chamada “vidro e corte”, e como esquecer do impacto que teve sobre mim a audição de Years of solitude do Piazzola e do Gerry Mulligan ?, aliás foi com você que aprendi a amar a música de Antônio Carlos Jobim lembra ? Ah! Mas o Rock and roll é que me pegou na veia, Depois da fase “anos 50” você me mostrara o moody blues, Cat Stevens, Uriah Heep e tanta coisa que seria impossível colocar aqui.
Fui crescendo e seguindo meu caminho enquanto você ia ficando cada vez mais longe porém sempre que nos encontrávamos era aquela festa e voltávamos a dar as velhas risadas e a conversar sobre, música, futuro, presente e passado que aliás era uma das nossos papos mais freqüentes vinha a tona, será que um dia o homem vai construir uma máquina do tempo ? você dizia que sim e me explicava por A + B o porque.Você adorava viver e sempre soube que a morte era só uma viagem para outra dimensão , aliás tinha certeza disso e me dizia que não havia lógica que tudo se acabasse aqui, a última vez que te vi você tava feliz pra caramba, viu sua filha casar e finalmente depois de tantas incertezas de ordem financeira e “mundanas”parecia ter encontrado sossego, falava até em vir morar em Surubim!
Não deu tempo amigo, você se foi antes para aquele lugar que dizia ser mais um estágio da evolução. Agora você reencontrou teu pai, tua mãe e quem sabe tá tocando “Dindi” para que minha mãe cante, aliás vocês sempre arrasavam nessa!!!
Fica em paz meu amigo, professor e segundo pai.
Seu segundo filho
Tuca

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